Banco Central mantém o tom cauteloso
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reafirmou, na ata de sua última reunião, que a taxa Selic deve permanecer em patamar elevado por um período prolongado.
O objetivo é garantir que a inflação convirja para a meta.
Mas, diante dos dados mais recentes, surge a dúvida: por quanto tempo esse “período prolongado” realmente precisa durar?
Inflação cede mais do que o esperado
Em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,26%, abaixo da expectativa de mercado, que apontava 0,37%. O índice de difusão, que mede a proporção de itens com aumento de preços, ficou em apenas 49%, mostrando que a alta foi pouco disseminada.
A inflação acumulada em 12 meses caiu de 5,35% para 5,23%, enquanto os núcleos de inflação — que indicam a tendência subjacente dos preços — também apresentaram desaceleração.
Alimentos aliviam, energia pressiona
O grupo Alimentos e Bebidas recuou pelo segundo mês consecutivo, ajudando a aliviar o orçamento das famílias.
Por outro lado, a energia elétrica foi o maior impacto de alta no mês, reflexo da bandeira tarifária vermelha e de reajustes em várias regiões.
Sem a energia elétrica, a inflação de julho teria sido de apenas 0,15%.
Economia perde fôlego
Indicadores de produção, consumo e crédito apontam desaceleração. Esse arrefecimento da atividade reforça a percepção de que, com inflação cedendo e economia menos aquecida, o argumento para manter juros altos indefinidamente perde força.
Expectativas ainda acima da meta
Há, porém, um fator que mantém o Copom em compasso de espera: as expectativas de inflação.
Apesar do recuo observado nos últimos meses — inclusive para 2026 —, elas ainda estão acima da meta para o próximo ano.
O Banco Central só deve iniciar cortes consistentes quando as expectativas se aproximarem mais do objetivo oficial.
Inflação implícita também recua
Outro ponto relevante é a inflação implícita — a taxa de inflação esperada embutida nos preços dos títulos públicos. Esse indicador vem caindo de forma contínua, sinalizando menor risco inflacionário no horizonte mais longo. Isso já ajuda a reduzir os juros de longo prazo, mesmo com a Selic estável.
O que esperar daqui para frente
A manutenção dos juros altos por tempo prolongado parece hoje menos uma necessidade estrutural e mais uma precaução diante de expectativas ainda resistentes.
Se a inflação continuar cedendo e as projeções convergirem para a meta, haverá mais espaço para reduzir a Selic.
Até lá, o recado do Banco Central é claro: paciência e vigilância.